A SISTEMÁTICA DA PROVIDÊNCIA DIVINA

A SISTEMÁTICA DA PROVIDÊNCIA DIVINA

A SISTEMÁTICA DA PROVIDÊNCIA DIVINA

Rabino Shmuel Binjamini

Na literatura religiosa judaica encontramos muitas narrativas de que forma D’us dirige o Universo, principalmente o Universo físico, onde Ele faz vigorar a lei da Torá para a raça humana. Resumidamente, eis os principais pontos do “sistema divino de administração”:

Ações proativas

Existem ações divinas que independem de nós para acontecer; a criação do mundo por exemplo. Existem, porém, ações e efeitos divinos que reagem ao nosso comportamento. Isto também se divide entre energias constantes que podem ser obstruídas ou desviadas, reagindo assim aos méritos da criatura. Há também energias não constantes, que surgem exclusivamente por uma causa especial.

As ações visíveis e constantes

É aceito por Cabalistas e legisladores, que a natureza terrestre deriva da natureza constelar (que por sua vez deriva de sistemas angelicais e Sefirot entre outros, sobre os quais detalharei em outro artigo). A Astrologia contém uma boa porção de verdade conhecida aos homens mas, para obter uma previsão exata do futuro é preciso conhecer também outros fatores que fogem do universo físico. Com isto, o judeu distingue como há momentos astrológicos propícios, para bons ou maus acontecimentos, em determinados locais ou pessoas. Isso não significa que D’us entregou-lhes um poder sobre nós. D´us apenas os usa como ferramenta sistemática que gera os efeitos desejados por Ele para reproduzi-los na Terra.

Assim, se alguém é punido ou recompensado por seus atos, isto deverá ocorrer na “data marcada”. Há numa exceção: caso alguém esteja próximo de um desastre iminente, seus méritos são revisados e a pessoa é protegida. Em contrapartida, pelas suas más ações, essa pessoa poderá ser impedida de se beneficiar e será punida.

Ações invisíveis variáveis

Além deste ciclo natural, existe o ciclo sagrado. A diferença entre natural e sagrado é que o natural-profano não produz nem reforça o lado divino das criaturas. Elas podem passar por grandes mutações sem notar que Alguém está conduzindo o seu destino. Quanto ao ciclo sagrado, o efeito já é diferente: a criatura sente uma atração (lógica, emocional ou essencial) a focar-se no relacionamento com o Criador. Este é o efeito que vigora no Shabat e nas demais datas festivas judaicas [1] assim como em toda pessoa que estiver realizando uma Mitzvá. Se a pessoa estiver cumprindo a Mitzvá com capricho, devoção e alegria, o efeito positivo será bem mais intenso.

Até aqui falamos de efeitos genéricos de D’us. Agora, vamos partir para detalhar a Consciência Suprema que direciona tudo isso como Ele deseja:

Controlar sem reagir

Em primeiro lugar, existe a Onisciência Divina, que conhece absolutamente tudo. Diante da grandeza do todo, os dados limitados, específicos, aqueles que descrevem um isolado acontecimento terrestre, não causam reação. São nulos e insignificantes.

Algumas categorias de reações Divinas

Para dirigir o mundo como ele é, para criar um senso de justiça, e ser um Rei justo, D’us mantém um estágio de consciência responsiva. Isso é chamado entre os religiosos “Hashgachá” (lit. supervisão). Maimônides [2] afirma que somente os indivíduos justos da raça humana são supervisionados na escala individual, enquanto animais, plantas e coisas inanimadas estão sujeitos apenas ao sistema genérico. O Ba’al Shem Tov [3] considera que, assim como D’us mantém constantemente a existência de todos os seres, caso não o faça constantemente, os seres deixariam de existir [4]. Vista esta consideração, a consciência é necessariamente responsiva também em relação aos seres não humanos. Rabi Duber Ben Rabi Shneor Zalman apresenta uma mediação entre Maimônides e o Ba’al Shem Tov e declara existirem duas qualidades na supervisão e reação divina. Segundo sua explicação, Maimônides e o Ba’al Shem Tov não divergem em nada. Maimônides, ao apontar para uma providência divina exclusiva para pessoas justas, está considerando apenas uma reação visivelmente divina, e nisso, o Ba’al Shem Tov aceita que o efeito divino só se faz aparente ao interagir com seres humanos que mantém um relacionamento intensivo com a Presença Divina e suas exigências dos seres terrestres. Todos concordam que somente para estes será realizado um milagre visível que quebre simultaneamente as rotinas da criação e as regras da natureza. Ao contrário dos homens perversos e dos animais, vegetais e minerais, para quem D’us reage somente por providência divina oculta. Esta forma de providência manipula a todos, até o menor dos detalhes, mas o faz sem interromper o ciclo das leis naturais, sem deixar que sua ação pareça ser algo extraordinário. O próprio ser que se beneficia da reação, caso seja um justo, se sentirá agraciado por D’us e terá maior vontade e potencial para dedicar-se com maior devoção ao lado espiritual, ao contrário do homem iníquo, onde mesmo após ser mantido vivo e existente pelo poder de D’us, não se torna mais sensível à Presença Divina por esse motivo.

FONTE: LIKUTEI SICHOT VOL. 18 PARASHA KORACH

[1] Apesar das datas dependerem do calendário que segue o ciclo natural do sol e da lua, os sábios de Israel podem alterá-lo dentro de certos parâmetros. O efeito sagrado irá ocorrer na data definida pelos sábios e, portanto, as datas judaicas não seguem unicamente os ciclos lunares e solares.

[2] Rabi Moshe ben Maimon, no Guia dos Perplexos

[3] Rabi Israel ben Eliezer

[4] Seguindo a premissa que tudo o que é limitado, e criado através de alteração em seu estado original que é ilimitado e independente para existir (existência divina).

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