05 dez As Dez Tribos Perdidas
Existe uma lenda difusa entre judeus e cristãos que relata a existência de dez (das doze) tribos de Israel num exílio desconhecido. Com o advento da era atual, muitos pesquisadores e antropólogos se aproveitaram desta crença para elaborar pesquisas e manifestar opiniões. Outra polêmica está ligada aos registros da existência de um reino judaico-asiático na Era Medieval, o reino “Cuzar”. Em suma, existem vários grupos que mantém hábitos ou nomes com certa similaridade a costumes ou nomes Hebreus. Pesquisadores alegam ancestralidade judaica para tribos “Patanis” no Afeganistão, “filhos de Menasse” no Mianmar, “os judeus chineses” (duas comunidades), “os filhos de Israel indianos”, entre outros grupos menos conhecidos.
Recentemente encontrei uma palestra interessantíssima onde o Rabino Mendel Kaplan de Toronto analisa a validez das lendas antigas em si, assim como as pesquisas mais atuais, de uma forma esplêndida. É uma análise que quebra vários paradigmas e reflete diretamente na questão de suma importância para muitos entre nós: “Quem sou eu? Quais são minhas origens?” e “Quem é este ‘povo judeu da atualidade’ a qual eu pertenço?!”
Segue um resumo dos principais pontos da análise:
1. As dez tribos se afastaram do judaísmo ainda quando estavam na terra de Israel. Aderiram ao paganismo e desenvolveram uma nova religião (pagã) própria deles.
2. Ao serem exilados pelos reinos da Assíria e do Médio, existe maior probabilidade de terem se assimilado entre as demais nações (salvo poucos adeptos da lei judaica da Torá) em poucas gerações.
3. As duas tribos restantes (Judá e Benjamin), foram levados mais tarde para as mesmas regiões. Nada impedia que eles se casassem com os remanescentes judeus das demais tribos gerando uma “massa popular mista” que a partir dali foi denominada “judeus”.
4. De todos os exilados, apenas quarenta mil optaram por regressar a Israel quando isto foi permitido pelo império, após a vitória judaica diplomática festejada atualmente no “Purim” (o Império Persa que deteve o maior poder mundial naquele momento). Mostra-se que a maioria absoluta dos exilados se assimilou rapidamente entre os babilônios e persas. Somente a minoria permaneceu fiel às leis da Torá e apenas uma parte desta minoria aceitou “fazer aliá” e regressar a Israel.
5. Atualmente os judeus orientais descendem em grande parte dos que ficaram ali desde os primeiros exílios (anteriores ao Império Romano). Os judeus da Europa aparentam descender daquelas famílias que regressaram a Israel e provavelmente descendem de uma mistura de todas as tribos com predominância a Judá e Benjamin (que tiveram menos tempo para se afastar de sua identidade judaica).
6. Atualmente existe um número de Levitas menor ou igual ao número de Cohanim. Isto se deve a recusa da maioria dos Levitas a participar do regresso a Israel; muitos deles perderam a linhagem e a identidade judaica.
7. A alegação de que todos os judeus Ashkenazim descendem dos Cazares, é tendenciosa e carece de fundamento científico, além de haverem inúmeras contradições científicas, inclusive da pesquisa genética de Ashkenazim que tem diversos traços similares aos das demais diásporas judaicas (inclusive do Iêmen). Aparentemente, os Cazares, que não voltaram a se assimilar entre outras nações, se misturaram com os demais judeus ao longo da história.
8. As diversas populações que mantém alguns hábitos e nomes similares aos judaicos, carecem de registro histórico definido. O mais provável seria eles descenderem dos muitos judeus que deixaram de praticar o judaísmo e de se comunicar com os centros religiosos de seus tempos, por opção. Ou então dos tantos judeus convertidos a força ao Islã, ou a outras religiões. Eles seriam algo semelhante aos cripto-judeus do Brasil, que tem conhecimento geral sobre suas origens, mas carecem de detalhes específicos sobre a participação de suas famílias em comunidades ativas e organizadas.
9. Uma grande parte dos jordanianos, ou como a mídia mundial gosta de denominar – “palestinos”, portam em suas veias uma parcela considerável de ancestralidade judaica convertida à força ao Islã. (Quem dera que uma pesquisa genética possa comprovar isso e talvez até mesmo alterar a ótica de todos os envolvidos.)
10. As lendas que descrevem em detalhes o paradeiro das tribos têm origens falhas, tais como diários de viagem que registram boatos a respeito das tribos e manuscritos dos discursos do falso profeta Natan de Gaza (discípulo do falso messias “Shabtai Tzvi”- de abominável memória), que alegava de as tribos estarem prestes a travar guerra contra a Turquia e fundar novamente o reino de Israel, resgatando os judeus perseguidos de todo o mundo.
11. As partes do Talmud e do livro de Ezequiel que falam do paradeiro das tribos podem e devem ser interpretadas como metáforas espirituais que relatam o quanto estas almas judias estão distantes de retornar ao seio de seu povo, e de fato Rabi Akiva discute com Rabi Eliezer e diz que as dez tribos jamais irão voltar (como tribos organizadas e separadas).
12. Maimônides define que uma das principais funções proféticas do Messias que virá no fim da diáspora, será apontar sobre aqueles entre as nações que, de fato, são judeus segundo a lei. Ele organizará novamente o povo de Israel em doze tribos (além de Levitas e Cohanim).
Cronograma
As dez tribos foram exiladas em algumas etapas de derrota diante dos Assírios entre os anos: 722 A.E.C. e 555 A.E.C. O reino de Judá foi destruído e os judeus levados até a Babilônia 133 anos mais tarde em 422 A.E.C. O regresso do profeta Ezra com cerca de quarenta mil remanescentes ocorreu setenta anos mais tarde em 352 A.E.C. A destruição do segundo Templo e o início da diáspora sob o Império Romano ocorreu no ano 68 da era comum. Shabtai Tzvi se autoproclamou como Messias após uma violentíssima onda de Pogroms em 1648-1649 e se converteu ao Islamismo em Istambul no ano de 1666, sob exigência do Sultão Mehemet da Turquia.
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