30 jun “Façamos o homem em nossa imagem e semelhança”
“Façamos o homem em nossa imagem e semelhança”
Esta passagem Bíblica [1] exige explicação já que é conhecido que D’us é um e único, como pode a Torá usar o termo plural “façamos” e “em nossa imagem”? Será que trata-se de dois os criadores?
Rash”i, o mais difundido comentário da Torá, explica: “Façamos o homem – daqui devemos aprender sobre a humildade de D’us”. Pois o homem tem semelhança aos anjos [possui uma personalidade semelhante a eles e também semelhante ao poder divino que cria este universo]’. Por ter semelhança aos anjos, que foram criados quatro dias antes do homem, junto com a formação dos céus [ou firmamentos [2]], estes seres tendem a se comparar ao homem e por vezes chegam a invejar e criticar a ele. Portanto D’us lhes ‘pediu licença’ (por assim dizer), para criar algo semelhante a eles a fim de evitar futuras queixas e reclamações, reivindicando os ‘direitos da personalidade’ para os primeiros portadores da mesma.
Rash”i em seguida, cita outras passagens que se referem a algum ato divino no plural: Também quando D’us julga os próprios anjos, Ele deixa a sua ‘côrte’ se manifestar, como diz o profeta Miqueias[3] “Então eu vi D’us sentado no Seu trono e todo o exército dos céus estavam parados diante d’Ele, à Sua destra e à Sua esquerda”. Pois como é possível dizer que Ele tem “direita e esquerda” se nós sabemos que Ele não é um corpo e nem tem estas características físicas?!
A resposta é: direita e esquerda não vem aqui a indicar a característica de D’us mas sim a característica dos argumentos que produzem as diferentes esferas celestiais conforme suas naturezas. A direita indica ‘bondade’ que produz argumentos para advogar e dar razão aos réus, enquanto a esquerda celestial representa a ‘severidade’ que é meticulosa, exigente e busca sempre argumentos para condenar a causa em disputa.
Assim vemos que quando algo na Torá aparenta contradizer os próprios fundamentos, algo está sendo mal interpretado: ou uma das passagens é levada de modo simplista demais, ou a contradição é superficial e não verdadeira.
O homem foi criado com uma personalidade que tem semelhança à sensação divina. Ele possui uma sensação inata de que ‘minha existência é obvia’, ‘todos (seus semelhantes) são livres’ e ‘as coisas sempre irão seguir seu curso natural’, etc. [Em linguagem ‘divina’ isto se traduz como: ‘D’us é consciente de que Ele existe de uma forma verdadeiramente independente e irrevogável’, ‘D’us age com total liberdade uma vez que ninguém é capaz de limitá-Lo’, ‘D’us é totalmente imutável’.]
Este homem foi ordenado na mesma Torá a seguir os caminhos de D’us. Esta parte também requer uma interpretação adequada para que ninguém se considere por um deus e cause destruição aos demais. A forma correta de cumprir este mandamento é ao buscar na própria Torá as qualidades éticas e justas que estão nas entrelinhas dos relatos dos atos divinos na terra. Nestes relatos, D’us nos ensina como uma consciência independente deve se conduzir ao se relacionar com outras consciências.
A relação D’us x criatura é o laboratório moral do universo, a primeira consciência a ‘compartilhar seu espaço’ com alguém.
Então, se você é um líder, um chefe de equipe ou um presidente, não deixe de fazer o que é realmente necessário, mas busque respeitar os teus inferiores e tente fazer com que eles se sintam confortáveis com a forma na qual você decide conduzi-los. Com isto você estará seguindo um dos caminhos de D’us.
E para quem faz falta uma prova bíblica de que D’us é o único criador do homem, logo adiante [4] a Torá diz: “então criou D’us o homem…”, em linguagem singular, que mostra que o criador de fato é um só.
[1] Gênesis 1:26
[2] O uso da palavra ‘firmamento’ revela que junto com a criação do espaço sideral, foram criadas e aplicadas as regras cíclicas da natureza que se repetem ciclo), sempre firmeza), sem alteração (a não ser que D’us faça algum milagre que desfaz esta ‘lei natural constante’).
[3] Reis I 22:19
[4] Gênesis 1:27
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