O SUSTENTO

O SUSTENTO

O SUSTENTO

Rabino Shmuel Binjamini

O Talmud [1] diz: “O sustento da cada pessoa lhe é cotado entre Rosh Hashaná e Yom Kipur”. Isto nos incentiva a dedicar-se às rezas nestes dias, nos quais nossas cotas de amparo divino são definidas. Segundo esta premissa, uma vez definida a cota, não haveria necessidade de preocupar-se e nem trabalhar. Bastaria apenas confiar em D’us e, o restante, certamente chegaria. No entanto, existem outras influências a considerar. Há um versículo [2] que diz: “E o Eterno te abençoará em tudo o que fizeres”, o que indica que algo deve ser feito para que a benção possa alcançar a pessoa. Outro contraponto a ideia supracitada, de não envolver-se com trabalho, está no simples fato de as rezas diárias incluírem pedidos detalhados de amparo, inclusive sucesso financeiro. Se após o veredito de Yom Kipur, tudo já estaria garantido, por que então reiteramos os mesmas pedidos diariamente?

O líder chassídico conhecido por Tsemach Tsedek [3] responde a estas questões e instrui como um judeu deve projetar o seu ganha-pão. Resumidamente é o seguinte: a distribuição anual de energias que mantém todo o Universo vem em algumas etapas. Em Rosh Hashaná é definida a cota de energia vital anual para o Universo como um todo. Em Yom Kipur, esta cota é dividida entre os seres (cota individual). Neste ponto, é necessário ressaltar que cada indivíduo é composto de várias camadas. A energia é proveniente das alturas da realidade divina, algo que é um tanto abstrato se comparado com nossa realidade. Ocorre então uma avaliação diária sobre a divisão da energia vital entre as diversas camadas do ser criado. Para invocar o amparo farto para a camada externa e material, repetimos diariamente nossos pedidos.

Isso explica porque pedimos as mesmas coisas múltiplas vezes. Agora nos resta detalhar sobre a forma indicada para encarar o trabalho que gera o sustento.

No artigo ao lado está detalhado como D’us mantém a natureza de uma maneira repetitiva, que gera a impressão dela (a natureza) ser algo tão óbvio, que foge da nossa visão o quanto ela é frágil e dependente da constante re-criação que a mantém.

Se a pessoa almeja receber uma boa parcela de sua energia em forma de bens materiais, deve preparar-se para tanto. O preparo consiste em: 1. Rezar; 2. Fazer com que a dádiva pretendida pareça ser algo natural, i.e. o resultado de um trabalho produtivo. Existem pessoas agraciadas por amparo milagroso, mas para isto é necessário um mérito especial que justifique um “tratamento excepcional”. A pessoa deve ainda optar entre riqueza material ou espiritual. Visto que a energia se divide entre as diversas camadas do ser, quem reza para ganhar muito dinheiro e se ocupa num trabalho cujo objetivo é obter um lucro razoável e que isto pareça totalmente natural, poderá enriquecer [4] nesta escala material, mas isto lhe conduzirá a uma pobreza espiritual. Por isso, na ausência da necessidade urgente de amealhar riquezas, o recomendável é: 1. projetar o quanto é realmente necessário lucrar para viver bem e poder servir a D’us com alegria. 2. Rezar para ser agraciado com esta soma, e 3. Investir num trabalho que permita ganhar este valor (como se fosse) naturalmente. Quem, ainda, optar pela pobreza material, preferindo a riqueza espiritual, não age de forma correta, uma vez que o ser humano foi criado para servir ao seu Criador através de seu corpo, e não para ignorar o lado físico, já que este consiste numa parte igualmente importante do mundo criado por D’us.

[1] Beitza 16A

[2] Deuteronômio 15:18

[3] Rabi Menachem Mendel Ben Shalom Shachna de Lubavitch.

[4] Caso não surgir algum impedimento espiritual para tanto.

1 Comment
  • Holly
    Posted at 23:18h, 11 março Responder

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