06 mar “Rabi Natan ben Yechiel Einav e Sefer He’aruch”
“Rabi Natan ben Yechiel Einav e Sefer He’aruch”
Rabi Natan é o autor de um dos primeiros dicionários judaicos: ele escreveu o “Sefer He’aruch” que é um dicionário-enciclopédia de todas as palavras difíceis no Talmud, Midrash e traduções diversas dos textos bíblicos.
Rabi Natan nasceu em Roma, filho de um diretor da Yeshivá local, um erudito poeta da tradicional família “Einav”. Em sua infância Rabi Natan não parecia seguir o caminho da erudição e após uma educação básica ele se juntou a um comerciante de tecidos viajante na função de auxiliar. O trabalho era muito cansativo e quando o seu patrão faleceu ele voltou a Roma e seguiu nos estudos, onde alcançou o nível de seus irmãos rapidamente. Além disso, viajou para estudar em outros centros de Torá. Primeiramente ele passou alguns anos na Sicília onde aprendeu a Torá com o pregador judaico, Rabi Matzliach ben al Bazak que foi aluno de Rav Hai Gaon de Pumbedita (na Babilônia). De lá, ele passou a Cairuan, na Costa Norte-Africana onde frequentava as aulas de uma das mais famosas yashivot da época: a Yeshivá de Rabi Chananel ben Chushiel e Rabi Nissim ben Iaacov Gaon, mais tarde viajou a Narvona, na França para estudar na Yeshivá de Rabi Moshe. No seu livro ele cita muitas vezes estes seus mestres. No caminho de volta para a sua casa em Roma ele passou ainda em duas Yeshivot italianas: a de Rabi Moshe de Paccoia e a de Rabi Moshe Calfo de Bari.
De volta a Roma ele encontrou os seus dois irmãos Rabi Daniel e Rabi Avraham que tornaram-se grandes eruditos com a instrução do pai. O pai, Rabi Yechiel, estava enfermo e faleceu em seguida. Apesar do costume dos ricos judeus em realizar seus enterros com grande cerimônia, Rabi Natan insistiu em realizar para o seu pai um enterro humilde conforme o costume judaico antigo. Com esta atitude Rabi Natan ganhou amizades com pessoas que pensavam como ele. Seus irmãos, filhos de Yechiel, tomaram posse da yeshivá de Roma e tornaram-se conhecidos líderes. Rabi Daniel, conhecia diversas ciências e com isso ele prestava consultas para diversos cientistas não-judeus e até mesmo ao Vaticano.
Ele elaborou um comentário sobre as Mishnaiot (1). O irmão mais jovem, Rabi Avraham, especializou-se em Halachá (2). Rabi Natan era especialista em linguística, gramática e idiomas. Juntos os três elevaram o nível do estudo no povo judeu a um nível que dificilmente foi alcançado por gerações posteriores. Até mesmo Rash”i (3), consultava eles sobre questões de Halachá.
Rabi Natan teve cinco filhos dos quais quatro morreram por doenças infantis. Restou apenas o caçula Reuven. Rabi Natan consolava-se com suas pesquisas e trabalho comunitário; ele reorganizou a vida comunitária, fundou instituições de Tsedaká e auxílio, fundos de empréstimos sem juros, albergues comunitários para “hachnassat-orchim” (4). Em 1085, ele inaugurou uma nova Mikve (5) na cidade de Roma, no ano de 1097, os irmãos ‘Bnei Yechiel” inauguraram uma bela sinagoga que era considerada na época uma das mais belas construções judaicas da Itália.
Em 1101, Rabi Natan publicou o “Sefer He’aruch” no qual ele explica todas as palavras utilizadas na literatura judaica desde o Talmud até os seus tempos. Rabi Natan cita textos aos quais não teríamos acesso e explica palavras difíceis de diversos idiomas. Ele conhecia hebraico, aramaico, árabe, persa, grego, latino, francês e italiano. Seus conhecimentos no campo das ciências que incluíam medicina, astronomia, matemática e geometria foram aplicadas na solução de questões abordadas em sua obra.
O livro tornou-se conhecido e rapidamente todo sábio judeu fazia uso dele, inclusive Rash”i utiliza o Aruch em sua obra sobre o Talmud.
O Aruch (literalmente “o organizado”) é uma das mais importantes obras feitas pelo judaísmo italiano e sua importância compete com as obras dos sábios da Espanha, França e Alemanha.(1) Plural de “Mishná” – livro de Rabi Yehuda Hanassi que é o alicerce do Talmud.
(2) Lei judaica.
(3) Rabi Shlomo ben Isaac de Trois, o maior comentarista da bíblia é um dos maiores do Talmud.
(4) “recepção de visitas”, um albergue gratuito para judeus desabrigados ou viajantes.
(5) Uma casa de banho ritual de purificação.
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