05 dez A vida no além-vida
É muito comum pessoas terem curiosidade sobre “a vida após a morte”, no entanto raramente alguém busca informações sobre “a vida antes de nascer”, por que será?
Suponho que isso possa ser parte do efeito da criação. Tudo começou com a palavra “Bereshit” (“No início criou D’us o céu e a terra”), cuja primeira letra é “Bet”. O formato desta letra indica que as criaturas deste universo tendem a olhar para a frente e não para cima, para baixo ou para trás.
Ao meditar sobre a vida antes de nascermos e sobre a vida após a morte, poderemos visualizar a diferença que nossa passagem pela terra faz em nossa vida essencial, aquela vida que não é passageira. Isso nos levaria a sentir o quanto valem nossas ações na escala permanente – a escala das almas e de D’us. Isto é apresentado na Ética dos Pais [1] onde está escrito: “Saiba de onde vieste, para onde estás indo e diante de Quem estás destinado a prestar contas de teus feitos”.
Considerando que a vida é na verdade a existência consciente e, somando isso ao fato de D’us ser a Primeira e mais completa existência (além de outras qualidades singulares que fogem de nosso alcance e linguagem), fica aparente que nossa consciência se torna algo “separado” de D’us através do processo criativo. A alma neste estágio extracorpóreo não valoriza nada material, somente qualidades e manifestações que são captadas de um modo intelectual (que opera com cálculos lógicos), ou de modo emocional (que opera com sensibilidades “natas” variáveis conforme a “personalidade” desta alma). Como a Torá e o desejo focado de D’us estão nas mãos do povo de Israel terrestre, não resta para os seres celestes a constante escolha “entre a vida e a morte, o bem e o mal” [2] que nós temos na terra. Eles não são tentados por ilusões como nós e acompanham os acontecimentos universais dentro do que lhes é permitido. Cada alma reage aos acontecimentos com pensamentos e sentimentos derivados de sua personalidade que é projetada para executar as tarefas de sua vida.
Todas elas porém, sentem prazer ao observar os “espasmos de prazer Divino” que sucedem a prática das Mitzvot. Todas sentem angustia e abominam o furor Divino que se espalha no universo no caso inverso. E então chega o momento onde, para convencer a alma a aceitar o ingresso a um corpo físico, é apresentado a ela o potencial dela como um ser ativo que serve ao seu Criador apesar das tentações, isso é algo que agrega um valor singular diante de D’us que escolheu estas ações como Seus “momentos preferidos”. A alma se atrai pela grandeza da oportunidade e aceita ingressar no corpo. Ela só voltará a ter esta escala de valores, ao partir do corpo.
Então, ao terminar seu prazo de vida num corpo, lhe é proporcionado o poder de reviver tudo o que fez aqui, na sua versão espiritual. O prazer com os bons resultados é a maior recompensa paradisíaca da alma. O desgosto das faltas e omissões cometidas, seria a pior experiência possível para a alma que às vezes, por seus méritos, é poupado dela na forma de reencarnação, que lhe dá uma segunda chance. De qualquer forma, aquela pessoa que se arrepende verdadeira e sinceramente em vida, transforma o ato errante, de algo repugnante em algo que acaba gerando no final uma comoção positiva que ressoa em todo o universo. Esta é forma mais conveniente de resolver nossos erros, mas só pode ser efetuada enquanto estamos vivos no corpo, que sem perceber faz coisas de efeito universal.
[1] Ética dos Pais cap. 2
[2] Deuteronômio 30:15
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